24 de agosto de 2009

Pula-pula...

Sempre fui grande, sempre maior que as crianças da minha idade, da minha sala da escola, ou da minha família... isso incluía os meninos também. Mas não era só grande de tamanho não, estrutura e peso também contavam...

Quando éramos crianças, minha mãe tinha mania de nos levar para fazermos passeios, sempre cheio de primos, vizinhos, amigos e cheios de emoções. Um simples passeio no bosque se transformava em uma aventura na floresta com direito a ouvir ruídos de onças, macacos e outros animais que sim, não estavam nas jaulas do bosque, mas em nossa imaginação.

– eu acho que ouvi um barulho, vocês ouviram?

- eu ouvi mãe! Eu ouvi.... (logo eu ia dizendo para ela, com os olhos arregalados e a expressão de quem realmente esta ouvindo algo que não existe)

- Humm deve ser uma onça.... vamos andar devagarzinho para não assustá-la...

(agora todas as crianças andando como se estivessem pisando em ovos, levantando os joelhos, com as costas arqueadas para frente e os braços abrindo espaço na perigosa mata)

– Tia Silvia, eu também estou ouvindo... eu também estou ouvindo!”

Claro que a escura e perigosa mata, não era nada mais que o jardim do bosque, com árvores grandes e muita vegetação rasteira.

Após tanta emoção com os animais dentro e fora de suas jaulas, chegávamos ao parquinho, tomávamos um lanche, e claro, sempre tinha espaço para mais uma pipoca, um algodão doce, um sorvete ou algo que se valha....

Então estávamos liberados, para o balanço, a casinha de madeira, o trem de concreto e o tão esperado e ao mesmo tempo temido, pula-pula, onde uma fila enorme de crianças eufóricas sempre se entendia.

A enorme fila, me causava uma eterna e angustiante espera, na frente do brinquedo uma placa com dizeres bem específicos da altura e peso máximo permitido para entrar no brinquedo me apavorava.

Assim que a euforia de entrar no brinquedo passava e a espera continuava, eu me via ali...angustiada, fazendo contas, abaixando os ombros e com um medo enorme de não me deixarem entrar porque estava acima do peso ou da altura permitida.... contas e mais contas.... nunca a soma foi tão amedrontadora. Olhava para frente e minhas primas mais magras, miúdas, meus irmãos de estrutura menor, minhas outras primas, mesmo mais cheinhas eram mais baixas e minhas amigas... ahh essas eram praticamente de vidro, de tão delicadas e pequenas.

Pronto chegou minha vez, mas o medo ainda estava lá:

“.... ai será que vou entrar desta vez.... será que ela viu que eu sou mais alta do que o permitido? Será que ela vai me pedir para subir na balança? Será que todos vão entrar e eu ficarei aqui fora sozinha?! “

A voz da responsável pelo brinquedo logo acabava com essa angustia:

- Coloque o sapato ali e pode entrar!”

Um sorriso logo se abria em meu rosto, e meu pensamento dizia: “Ufa desta vez passei.”


Mas esse sorriso não durava muito, logo vinha a outra preocupação:

" Será que eu consigo passar pela abertura de entrada? Será que ficarei entalada ali? Ela não viu que sou maior, mas a abertura não abre mais que isso... “ e lá se iam mais eternos segundos de angustia e medo.


- “ vamos entre, vá se divertir... você tem 15 minutos”


Ao entrar o mundo era de outra cor, eu era igual às outras crianças, sempre liderando as canções que seriam cantadas enquanto os pulos no colchão inflável eram dados e curtidos como se fossem os últimos, mesmo porque não sabia se a próxima eu conseguiria entrar ou não!

Bom, no final das contas tudo dava certo, eu ouvida os barulhos da selva, comia as guloseimas mais gostosas, brincava em todos os brinquedos, entrava no pula-pula sem ficar entalada na entrada e me divertia à beça!

Nunca ninguém nunca soube dessa minha preocupação com o temido brinquedo, nunca ninguém percebeu nada, mas eu sei bem como era angustiante aquela fila.... Passou, mais um desafio vencido e enfrentado!!!

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